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FGV: América Latina teme aumento do protecionismo

 
Países latino-americanos exportadores de commodities (matérias-primas),
como o Brasil, temem “um mundo mais protecionista” em barreiras
comerciais, devido às consequências de um cenário de guerra cambial. A
avaliação foi feita hoje pela coordenadora de projetos do Centro de
Estudos do Setor Externo do Instituto Brasileiro de Economia da Fundação
Getúlio Vargas (FGV), Lia Valls.

A especialista fez a análise após explicar tópico especial da
Sondagem Econômica da América Latina de janeiro deste ano, que trata das
influências no mercado mundial de uma “guerra cambial”. Neste tópico,
92% dos entrevistados no Brasil, Colômbia, Chile e México apostam em um
risco elevado de se adotar mais medidas protecionistas, caso nada ocorra
para mudar o atual cenário. A sondagem ouviu 143 especialistas em 18
países.

Ela lembrou que ainda não ocorre, entre os países do mundo, um
consenso a respeito de como rearranjar a entrada de capitais dentro dos
países de forma a não conduzir a um cenário de dólar fraco, o que leva a
enxurradas de entrada de importados nos mercados domésticos, ao mesmo
tempo em que eleva preços de commodities exportadas.

“Ninguém acha que continuar valorizando câmbio é bom, porque acaba
afetando a indústria”, disse. Lia avaliou que isso, em um longo prazo,
pode conduzir a movimentos de substituição de produção por importações.
“Se não houver um rearranjo na questão do controle de capitais, para se
diminuir desequilíbrios de entrada de capital, pode ser que todo mundo
decida se proteger, com medidas protecionistas. Isso seria o pior
cenário”, alertou. “Este tema cambial é uma das maiores preocupações
entre os países da América Latina”, afirmou.

Inflação e cautela

O temor do avanço da inflação, aliado às incertezas que sempre cercam
a implementação de um novo governo, levaram os analistas
latino-americanos a uma postura de “cautela” quanto ao Brasil, segundo
Lia Valls. Ela lembrou que a preocupação com o avanço da inflação não é
privilégio do Brasil. “O medo da inflação não é peculiar somente ao
Brasil. Com o aumento nos preços das commodities (matérias-primas), há
um temor generalizado no mundo em relação ao rumos da inflação”, disse.

Segundo Lia Valls, o Índice de Clima Econômico (ICE) do Brasil,
indicador calculado com base nas respostas apuradas para a Sondagem
Econômica da América Latina, desacelerou levemente, de 6,8 para 6,7
pontos de outubro de 2010 para janeiro deste ano (em uma escala de até
nove pontos, onde respostas acima de cinco pontos são consideradas
positivas).

Ao mesmo tempo, o Brasil, no mesmo período, desceu da terceira para a
quarta posição no ranking de clima econômico dos 11 países
latino-americanos, pesquisados pela Sondagem. O ranking é feito a partir
do cálculo do ICE médio de cada país apurado nos últimos quatro
trimestres. “Mas as pontuações do Brasil, tanto no ICE do trimestre
quanto no ranking, continuam acima de cinco pontos, ou seja, em cenário
positivo, mesmo com estes recuos”, comentou.

Na análise da especialista, o mais correto seria encarar que as
avaliações sobre o Brasil ainda estão “em compasso de espera”. Ela
reiterou que a sondagem da América Latina, que ouviu 143 especialistas
em 18 países em janeiro, foi apurada antes do governo anunciar intenção
de cortes de gastos públicos. Lia não descartou que este anúncio possa
ajudar a melhorar o resultado de clima econômico brasileiro, na próxima
divulgação da sondagem.

fonte: Estadao.com.br