No Dia Mundial do Meio Ambiente, celebrado nesta quarta-feira, 05 de junho, uma live promovida pela Revista Plástico Sul, com apoio do Sinplast-RS, discutiu novas estratégias para uma reciclagem mais efetiva após o desastre climático no Rio Grande do Sul. O debate contou com a participação do CEO da Plastiweber e diretor do Sinplast-RS, Moisés Weber; do diretor da Alcaplas, Alceu Lorenzon; e da sócia diretora da Gaia Projetos e Consultoria Socioambiental, Evelin Haslinger. A editora da revista, Melina Gonçalves, foi a mediadora do encontro virtual.
Melina abriu a discussão destacando as dificuldades enfrentadas pela indústria de reciclagem, cooperativas, associações e catadores na retomada das operações pós-desastre. Apesar da alta geração de resíduos, há escassez de matéria-prima. Grande parte do material, danificado pela água e pela lama, é encaminhado para aterros sanitários, à espera de caminho de reciclagem. A situação é agravada pelas grandes quantidades de materiais descartáveis utilizados nos abrigos. Ela enfatizou o papel crítico do plástico na sociedade, contando até a sua experiência pessoal de ficar dez dias sem água em casa. Melina citou números das Nações Unidas, que reportaram 47 milhões de toneladas de detritos gerados pelo evento climático, com 46 aterros criados no estado para processamento de resíduos. O processo final de reciclagem, segundo a Secretaria Estadual de Meio Ambiente, levará pelo menos seis meses.
Os convidados compartilharam suas experiências sobre os eventos climáticos extremos que afetaram o estado recentemente. Lorenzon destacou a gravidade da situação para os colaboradores, muitos dos quais perderam suas casas e agora enfrentam dificuldades para retomar suas atividades profissionais. Evelin acrescentou que cooperativas de reciclagem em São Leopoldo foram duramente atingidas, com galpões submersos e centenas de cooperados desamparados. Além disso, foi enfatizado que a escassez de matéria-prima e a falta de infraestrutura adequada dificultam o retorno das atividades de reciclagem. Weber ressaltou que a operação das empresas está comprometida devido à destruição dos fornecedores e à contaminação da matéria-prima, sendo importante uma resposta coordenada para recuperar a capacidade de produção e garantir o abastecimento do mercado.
Evelin relatou o esforço de diversas frentes para apoiar as cooperativas de reciclagem, incluindo doações e suporte logístico. Ela apontou a necessidade urgente de melhorar os contratos e a remuneração das cooperativas pelos serviços ambientais prestados, enfatizando que as prefeituras muitas vezes não fornecem o suporte necessário. “Só em Porto Alegre, em torno de 300 cooperados de reciclagem foram atingidos. Aqueles que não foram atingidos diretamente, que não tiveram suas casas ou galpões alagados, por exemplo, em Porto Alegre essa semana eu falei com uma associação de catadores que eles retornaram ao trabalho ontem e não tinham EPIs, porque ficaram um mês sem trabalhar e não tinham recurso. Então, precisavam de ajuda e não tinham ainda resíduo para vendas”, afirma.
Os debatedores concordaram que a crise atual representa uma oportunidade para repensar e aprimorar o sistema de reciclagem no estado e no país. Lorenzon criticou a falta de gestão pública na resposta ao desastre, que resultou em perdas significativas à população, e defendeu uma maior valorização das cooperativas de reciclagem, que deveriam ser pagas de forma justa pelo trabalho. “Entre 3% a 5% da arrecadação de cada município é para fazer a gestão do resíduo, e pouquíssimas Prefeituras têm planos de gestão de destinação adequada do resíduo. Ou seja, as cooperativas deveriam receber um valor equivalente ao que as Prefeituras pagam ou deveriam pagar para as cooperativas retirarem do meio ambiente, separarem e mandarem para um destino muito mais adequado que os aterros, que é a reciclagem e reuso dos produtos”, relata.
Além disso, os convidados discutiram questões como a isenção tributária da Zona Franca de Manaus, que impacta a competitividade da reciclagem nacional. Weber propôs uma revisão das políticas de importação de matéria-prima e a implementação de incentivos para a reciclagem. Ele destacou a necessidade de priorizar o uso de materiais reciclados pelas grandes marcas e transformadores, como forma de promover a economia circular. “Sempre é difícil a mudança, mas o preço de não mudar é muito maior. Então, todos nós, recicladores, temos produtos de qualidade certificados e é preciso parceria, investimento em tempo e resiliência para fazer a transição para a economia circular”, observa.
A live deixou claro que, apesar dos desafios, há um caminho promissor para a reciclagem no Rio Grande do Sul. A união de esforços entre governo, empresas e sociedade civil será crucial para superar os impactos do desastre climático e construir um sistema de reciclagem mais eficiente e sustentável.