O Sinplast-RS vem acompanhando de perto a tramitação do projeto de lei que proíbe a distribuição de sacolas plásticas em Gramado, na Serra Gaúcha. Diversas reuniões com os poderes públicos locais vinham sendo realizadas com o objetivo de propor alternativas realmente eficazes quanto ao uso e destinação correta das sacolas no município. Porém, essa semana, entrou em vigor a lei, fazendo com que o comércio de Gramado só possa distribuir sacolinhas plásticas se cobrar por elas. O Sinplast-RS segue trabalhando e impulsionando esse debate junto à sociedade. Na quinta-feira (21.03), o consultor do Sindicato pela Valorização do Plástico Manoel Lisboa concedeu entrevista ao Programa Acontecendo, apresentado por Lasier Martins, na Rádio Guaíba, sobre o tema.
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Além da entrevista, a imprensa está sendo pautada sobre o tema a partir de artigo assinado pelo consultor Manoel Lisboa:
Artigo:
Proibir o uso de sacolas de plásticos demonstra incapacidade do poder público de fazer políticas corretas para a gestão ambiental
Manoel Lisboa, consultor do Sinplast-RS pela Valorização do Plástico
A proibição das sacolas plásticas trouxe à luz os desafios das autoridades públicas em relação às políticas ambientais. É evidente que o desenvolvimento de estratégias sustentáveis para abordar as questões ecológicas de forma abrangente é uma tarefa difícil. Um dos maiores desafios é a gestão dos resíduos sólidos urbanos, especialmente considerando a crescente complexidade dos materiais descartados e o aumento significativo dos resíduos gerados ao longo do tempo. Isto significa que as autoridades públicas precisam buscar um conhecimento profundo sobre a circularidade e a reciclagem de materiais, como por exemplo as tecnologias disponíveis e as estratégias de gestão mais eficientes. Para isso devem contratar profissionais qualificados para garantir que não estão buscando apenas uma publicidade momentânea e terminarem fazendo um “greenwashing”, que é uma resposta superficial às exigências da sociedade, porém irá impactar negativamente nas gerações futuras.
As sacolas plásticas se destacam como um meio prático e eficiente para o transporte de produtos desde o ponto de venda até a residência do consumidor. Sua utilidade se estende além do transporte, pois, após seu uso inicial, elas servem como recipientes convenientes para o descarte de resíduos. Ao longo dos anos, uma variedade de materiais foi explorada para o uso em embalagens, incluindo madeira, papel, peles de animais, metal e vidro. No entanto, foi o plástico que emergiu como a solução mais conveniente, devido à sua combinação única de leveza, durabilidade e baixo custo, superando os demais materiais em termos de eficiência e adaptabilidade para o transporte e proteção de produtos.
Lamentavelmente, parece haver uma compreensão limitada por parte do poder público sobre as consequências da substituição de materiais plásticos por alternativas. Tal mudança não só resultaria em um aumento significativo na geração de resíduos, mas também elevaria o consumo de energia necessário para a produção de novos materiais, além de acarretar uma perda considerável de valor econômico. Cada produto que consumimos incorpora quatro dimensões fundamentais: matéria-prima, energia, mão de obra e valor econômico. Essas dimensões são cruciais para a produção de qualquer bem. A reciclagem de materiais permite a recuperação dessas quatro dimensões, incluindo a matéria-prima, a energia, o esforço laboral e, por fim, o valor econômico. No entanto, ao optarmos por produtos biodegradáveis, enfrentamos a perda de matéria-prima, valor econômico, energia e mão de obra, sem mencionar a geração de gases de efeito estufa, como metano em aterros sanitários e CO2 durante o processo de compostagem. Vale lembrar ainda que a inserção de produtos biodegradáveis irá comprometer negativamente a reciclagem, pois estes materiais apresentam incompatibilidade com os processos e poderá resultar na perda de renda das cooperativas.
Outro fator importante é que o Brasil ainda carece da infraestrutura necessária para uma compostagem, o que significa uma opção incorreta, além obviamente de aumentar os custos, pois materiais biodegradáveis custam bem mais que os materiais convencionais. Ressaltamos também que a maioria de produtos biodegradáveis competem com a produção de alimentos. Além dos biodegradáveis, existe no mercado os “oxi-degradáveis” que são extremamente prejudiciais ao meio ambiente por não permitirem a reciclagem, estarem carregados de metais pesados e serem uma grande fonte de geração de microplásticos.
Para maximizar a eficácia da reciclagem, é crucial compreender as propriedades específicas de cada material. Por exemplo, o plástico tem a vantagem de ser reciclável mesmo na presença de sujeira e umidade, uma flexibilidade que não se estende ao papelão. Uma vez que o papelão chega aos aterros sanitários, contaminado e molhado, as tecnologias de reciclagem atuais não conseguem processá-lo adequadamente para reutilização. O vidro, embora tecnicamente reciclável, muitas vezes não é reaproveitado devido ao seu baixo valor econômico e ao custo associado ao processo de reciclagem
Diante dessas considerações, a ideia de substituir plásticos por papel ou materiais biodegradáveis é totalmente incorreta do ponto de vista ambiental. Isso se deve à complexidade e às limitações associadas à reciclagem de alternativas ao plástico. Portanto, uma abordagem mais holística e informada é necessária ao avaliar substituições de materiais, levando em conta não apenas o potencial de reciclagem, mas também o impacto ambiental geral e a viabilidade econômica de tais mudanças.
A gestão de resíduos sólidos urbanos não apenas requer uma abordagem técnica e tecnológica avançada, mas também uma visão holística que considere os aspectos sociais, econômicos e ambientais envolvidos. A proibição das sacolas plásticas, é uma solução inadequada na tentativa de mitigar um dos problemas ambientais, apenas arranha a superfície de questões mais profundas relacionadas à produção de resíduos e à sustentabilidade. Portanto, é imprescindível que o poder público busque soluções integradas que promovam a educação, redução, reutilização e reciclagem de materiais, incentivando práticas sustentáveis entre os cidadãos e as indústrias. A colaboração entre governos, setor privado e a sociedade civil é fundamental para desenvolver políticas eficazes que possam enfrentar a complexidade da gestão de resíduos sólidos urbanos e, por extensão, contribuir para a preservação do meio ambiente para as gerações futuras.
A indústria do plástico propôs um modelo inovador para a cidade de Gramado, visando tornar o município um modelo nacional de sustentabilidade e economia circular, abrangendo coleta, transporte, triagem e destinação correta de resíduos. A realização deste projeto depende, contudo, do comprometimento do poder público. Reconhecemos a escassez de recursos, especialmente em cidades menores, mas a indústria está disposta a colaborar, principalmente nas questões de reciclagem e recuperação de materiais.
Portanto, a proibição de materiais não se justifica sob as perspectivas econômica, ambiental e social. Uma abordagem mais integrada e colaborativa entre o poder público, a indústria e a sociedade é essencial para enfrentar os desafios ambientais de forma eficaz e evitar a promulgação de leis inadequadas do ponto de vista ambiental.